Exterior da capela das 11 000 Virgens, em Alcácer do Sal
António Rodrigues continua a ser um enigma na história da arquitectura portuguesa do Renascimento.
Procurando retirar da penumbra uma obra impar e regastar para a memória presente este arquitecto no âmbito do Renascimento em Portugal, Domingos Tavares elaborou uma monografia sobre este arquitecto, com o titulo: - António Rodrigues e o Renascimento em Portugal.
A obra foi apresentada publicamente no dia 12 de Outubro, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Mas quem foi António Rodrigues e qual a sua importância na História da Arquitectura em Portugal?
A reflexão que Domingos Tavares efecuou na sua monografia permite-nos uma resposta sobre esta questão (sic):
- Escolhi António Rodrigues como primeiro arquitecto português de base científica, para expressar esse movimento colectivo com reflexos nas artes em geral e na arquitectura de modo particular (página 11)
É que Rodrigues foi um leitor crítico dos conceitos formulados nos tratados maneiristas que correram na sua época, propondo através do primeiro tratado de arquitectura de autor escrito em português, o enunciado teórico adequado ao humanismo neoplatónico em expansão nos meios intelectuais próximos da corte.(página 11)
Ao longo de 135 páginas, Domingos Tavares conduz-nos com mestria ao arquitecto, à sua obra e aos meandros do Renascimento num periodo complexo da nossa história: - Expansão, consulidação do império ultramarino, chegada da inquisição e anexação a Castela.
A obra divide-se em 9 partes: - Introdução, Cidades da Renascença, Um arquitecto discreto, Cultura de príncipes, Onze Mil Virgens, Rigor e variações, Lições de Arquitectura, Geometria e proporção (da autoria de João Pedro Xavier) e por fim o Último capítulo.
Pela leitura desta monografia, salienta-se um monumento impar na arquitectura portuguesa, que nas palavras de Domingos Tavares (sic): - (António Rodrigues) continua a ser apontado como o autor de uma das mais maravilhosas obras da arquitectura ocidental, a capela das Onze Mil Virgens anexa à igreja do convento franciscano de Santo António em Alcácer do Sal (páginas 11-12).
Trata-se de uma joia arquitectónica que Domingos Tavares atribui à fase inicial da obra de António Rodrigues, numa altura em que este manifesta um enorme fascinio pelo desafio de levar à pratica construtiva os desafios teóricos da linguagem geometrica levada à perfeição.
A obra final que é actualmente perceptível nessa capela, prova que este arquitecto acompanhou de perto a sua construção, de forma a encontrar soluções para problemas que poderiam surgir em estaleiro, de forma a impedir uma adulteração do projecto delineado em “desenho”.
Esta questão era muito importante, de tal forma e seguindo o texto de Domingos Tavares (sic, página 13) :
- A primeira qualidade do arquitecto é saber desenhar para que, por esse meio, possa mostrar o seu “conceito” e, em consequência, tornar exequível o que o entendimento da forma exige para a concretização da obra. E a expressão dessa virtude desenvolve-se a partir das “quatro espécies de desenho”: pranta (planta ou iconografia), momtea (alçado ou ortografia), perfice (perfil ou corte) e prespectiua (perpectiva ou cenografia)
Mas existem algumas questões que permanecem por clarificar. O problema de base começa pela própria figura deste arquitecto que teima em ...” esconder a sua personalidade numa discreta maneira de ser, escrever sobre ciência e por de trás dela se escondeu. (obra citada, contra-capa)
Na realidade muito pouco sabemos da sua vida. Numa atitude de prudencia, Domingos Tavares aponta para local de nascimento o Litoral Alentejano, sugerindo a área de Alcácer do Sal (página 32).
Pegando na sua reflexão quando afirma que esta figura, cavaleiro fidalgo da casa de El-Rei, continua a ser profundamente enigmática porque a investigação histórica permanece incapaz de esclarecer as muitas questões ainda em aberto e reflectindo sobre a sua obra-prima, a Capela das Onze Mil Virgens e o seu significado para Alcácer do Sal em termos da sua “memória colectiva”, tem bastante sentido propor que este arquitecto tenha uma forte ligação a Alcácer. A falta de documentação impede-nos de afirmar que ele terá aqui nascido, mas não é descabido levantar essa hipótese.
Uma das chaves poderá residir na Capela das Onze Mil Virgens.
No meu ponto de vista, estamos perante uma jóia, talhada na perfeição que se pode exigir da linguagem geométrica.
Mas transformando-se em diamante, não estamos perante uma obra geometricamente fria. Seguindo o pensamento de Domingos Tavares (página 70), o tratamento que o mármore translúcido da cúpula faz do sol permite estarmos perante uma metáfora da cúpula celeste.
A mestria com que António Rodrigues idealizou esta cúpula, que segundo Domingos Tavares segue o modelo da Igreja de Santa Sofia de Constantinopla( http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.mlahanas.de/Greeks/Medieval/Arch/HagiaSophiaDrawing.jpg&imgrefurl=http://www.mlahanas.de/Greeks/Medieval/Arch/HagiaSophia.html&h=456&w=700&sz=44&hl=pt-PT&start=8&tbnid=Nhe17zZisGUE_M:&tbnh=91&tbnw=140&prev=/images%3Fq%3Dhagia%2Bsophia%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG ) ou modelos bizantinos da Península Itália, é revelador de uma intenção forte de impressionar. Poderá ser alguém ou então dignificar a sua Terra Natal. Apesar do autor não ter aprofundado a questão do culto de Santa Úrsula em Alcácer (página 61), a sua presença na cidade do Sado, prende-se com a data tradicional que é atribuída à sua conquista definitiva em 1217. Actualmente supõe-se que foi uma data um pouco forçada em alguns dias, de forma a cativar a forte devoção dos cruzados do norte da Europa.
De forma a estimular um debate sobre este arquitecto e a problemática do Renascimento em Portugal, a ocasião serviu de pretesto para organizar um debate - Arquitectura do Renascimento em Portugal existiu?
Com o auditório cheio de participantes, foi estabelecido um interessante diálogo entre os conferencistas e o público.
O tema tinha um ar de desafio e o objectivo era estimular as várias correntes de postura que existe sobre a questão, desde as posições mais “fundamentalistas” que negam a existencia de uma arquitectura do “Renascimento” fora do espaço Italiano, até às posturas de que existe um Renascimento precose em Portugal, cuja linguagem arquitectónica se pode identificar em mais de 130 edifícios já invetariados.
Participarem neste seminário, os conferencistas Rafael Moreira, Marieta Dá Mesquita, Alexandre Alves Costa, Jorge Correia, Walter Rossa, Marta Oliveira e Domingos Tavares que de um modo bastante informal dissecaram as várias problemáticas específicas do renascimento no nosso país.
Procurando retirar da penumbra uma obra impar e regastar para a memória presente este arquitecto no âmbito do Renascimento em Portugal, Domingos Tavares elaborou uma monografia sobre este arquitecto, com o titulo: - António Rodrigues e o Renascimento em Portugal.
A obra foi apresentada publicamente no dia 12 de Outubro, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Mas quem foi António Rodrigues e qual a sua importância na História da Arquitectura em Portugal?
A reflexão que Domingos Tavares efecuou na sua monografia permite-nos uma resposta sobre esta questão (sic):
- Escolhi António Rodrigues como primeiro arquitecto português de base científica, para expressar esse movimento colectivo com reflexos nas artes em geral e na arquitectura de modo particular (página 11)
É que Rodrigues foi um leitor crítico dos conceitos formulados nos tratados maneiristas que correram na sua época, propondo através do primeiro tratado de arquitectura de autor escrito em português, o enunciado teórico adequado ao humanismo neoplatónico em expansão nos meios intelectuais próximos da corte.(página 11)
Ao longo de 135 páginas, Domingos Tavares conduz-nos com mestria ao arquitecto, à sua obra e aos meandros do Renascimento num periodo complexo da nossa história: - Expansão, consulidação do império ultramarino, chegada da inquisição e anexação a Castela.
A obra divide-se em 9 partes: - Introdução, Cidades da Renascença, Um arquitecto discreto, Cultura de príncipes, Onze Mil Virgens, Rigor e variações, Lições de Arquitectura, Geometria e proporção (da autoria de João Pedro Xavier) e por fim o Último capítulo.
Pela leitura desta monografia, salienta-se um monumento impar na arquitectura portuguesa, que nas palavras de Domingos Tavares (sic): - (António Rodrigues) continua a ser apontado como o autor de uma das mais maravilhosas obras da arquitectura ocidental, a capela das Onze Mil Virgens anexa à igreja do convento franciscano de Santo António em Alcácer do Sal (páginas 11-12).
Trata-se de uma joia arquitectónica que Domingos Tavares atribui à fase inicial da obra de António Rodrigues, numa altura em que este manifesta um enorme fascinio pelo desafio de levar à pratica construtiva os desafios teóricos da linguagem geometrica levada à perfeição.
A obra final que é actualmente perceptível nessa capela, prova que este arquitecto acompanhou de perto a sua construção, de forma a encontrar soluções para problemas que poderiam surgir em estaleiro, de forma a impedir uma adulteração do projecto delineado em “desenho”.
Esta questão era muito importante, de tal forma e seguindo o texto de Domingos Tavares (sic, página 13) :
- A primeira qualidade do arquitecto é saber desenhar para que, por esse meio, possa mostrar o seu “conceito” e, em consequência, tornar exequível o que o entendimento da forma exige para a concretização da obra. E a expressão dessa virtude desenvolve-se a partir das “quatro espécies de desenho”: pranta (planta ou iconografia), momtea (alçado ou ortografia), perfice (perfil ou corte) e prespectiua (perpectiva ou cenografia)
Mas existem algumas questões que permanecem por clarificar. O problema de base começa pela própria figura deste arquitecto que teima em ...” esconder a sua personalidade numa discreta maneira de ser, escrever sobre ciência e por de trás dela se escondeu. (obra citada, contra-capa)
Na realidade muito pouco sabemos da sua vida. Numa atitude de prudencia, Domingos Tavares aponta para local de nascimento o Litoral Alentejano, sugerindo a área de Alcácer do Sal (página 32).
Pegando na sua reflexão quando afirma que esta figura, cavaleiro fidalgo da casa de El-Rei, continua a ser profundamente enigmática porque a investigação histórica permanece incapaz de esclarecer as muitas questões ainda em aberto e reflectindo sobre a sua obra-prima, a Capela das Onze Mil Virgens e o seu significado para Alcácer do Sal em termos da sua “memória colectiva”, tem bastante sentido propor que este arquitecto tenha uma forte ligação a Alcácer. A falta de documentação impede-nos de afirmar que ele terá aqui nascido, mas não é descabido levantar essa hipótese.
Uma das chaves poderá residir na Capela das Onze Mil Virgens.
No meu ponto de vista, estamos perante uma jóia, talhada na perfeição que se pode exigir da linguagem geométrica.
Mas transformando-se em diamante, não estamos perante uma obra geometricamente fria. Seguindo o pensamento de Domingos Tavares (página 70), o tratamento que o mármore translúcido da cúpula faz do sol permite estarmos perante uma metáfora da cúpula celeste.
A mestria com que António Rodrigues idealizou esta cúpula, que segundo Domingos Tavares segue o modelo da Igreja de Santa Sofia de Constantinopla( http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.mlahanas.de/Greeks/Medieval/Arch/HagiaSophiaDrawing.jpg&imgrefurl=http://www.mlahanas.de/Greeks/Medieval/Arch/HagiaSophia.html&h=456&w=700&sz=44&hl=pt-PT&start=8&tbnid=Nhe17zZisGUE_M:&tbnh=91&tbnw=140&prev=/images%3Fq%3Dhagia%2Bsophia%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG ) ou modelos bizantinos da Península Itália, é revelador de uma intenção forte de impressionar. Poderá ser alguém ou então dignificar a sua Terra Natal. Apesar do autor não ter aprofundado a questão do culto de Santa Úrsula em Alcácer (página 61), a sua presença na cidade do Sado, prende-se com a data tradicional que é atribuída à sua conquista definitiva em 1217. Actualmente supõe-se que foi uma data um pouco forçada em alguns dias, de forma a cativar a forte devoção dos cruzados do norte da Europa.
De forma a estimular um debate sobre este arquitecto e a problemática do Renascimento em Portugal, a ocasião serviu de pretesto para organizar um debate - Arquitectura do Renascimento em Portugal existiu?
Com o auditório cheio de participantes, foi estabelecido um interessante diálogo entre os conferencistas e o público.
O tema tinha um ar de desafio e o objectivo era estimular as várias correntes de postura que existe sobre a questão, desde as posições mais “fundamentalistas” que negam a existencia de uma arquitectura do “Renascimento” fora do espaço Italiano, até às posturas de que existe um Renascimento precose em Portugal, cuja linguagem arquitectónica se pode identificar em mais de 130 edifícios já invetariados.
Participarem neste seminário, os conferencistas Rafael Moreira, Marieta Dá Mesquita, Alexandre Alves Costa, Jorge Correia, Walter Rossa, Marta Oliveira e Domingos Tavares que de um modo bastante informal dissecaram as várias problemáticas específicas do renascimento no nosso país.