quarta-feira, julho 04, 2007

A PRESENÇA ALCACERENSE E TORRECENSE NO NORTE DE AFRICA,






segunda-feira, abril 16, 2007

Fr IOZÉ´ DA QUIETAÇAM (Guardião do convento de S. António de Alcácer)

Nota bibliografica segundo:
- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO II, paginas 894-895.


Fr. IOZE´DA QUIETAÇAM natural de Lisboa, e filho de Ioaõ Tavares Pereira, e Francisca Maria da Luz. Professou o serafico instituto da Provincia dos Algarves em o Real Convento de Xabregas em o de Março de 1717 onde fo Guardiaõ dos Conventos de Santo Antonio de Alcacere, e de S. Francisco de Montemór, Comisario dos Terceiros do Convento de Setubal, e Prègador Geral para cujo ministerio o dotou a natureza de especial genio, e prompta facilidade sendo sempre ouvido com geral aceitaçaõ. Tem publicado.

Sermaõ em aplauzo do Maximo Doutor S. Jeronimo prègado no Convento do Matto. Lisboa na Patriarchal Officina da Musica. 1728. 4.
Sermaõ na enternecida procissaõ que faz a devota, e veneravel Congregaçaõ de Nossa Senhora da Soledade, erecta unicamente em a notavel Villa de Setubal. Lisboa na Officina da Musica. 1735.4
Sermaõ do Capitulo Provincial. Lisboa na mesma Officina 1737. 4.
Sermaõ de S. Ioze prègado na sua Igreja. Ibi na dita Officina. 1738. 4.
Vida, e Novena do glorioso S. Marçal Discipulo de Jesu Christo inclito Bispo, e especial advogado contra os incendios. Lisboa por Mauricio Vicente de Almeyda 1736. 8.
Semana devota em louvor de Maria Santissima, e do glorioso S. Marçal. Lisboa na Officina da Musica. 1737.8.
Novena da Senhora dos Anjos, e modo de rezar a Serafica Coroa. Lisboa na Officina de Theotonio Antunes de Lima. 1737. 12.
Novena de S. Sebastiaõ ibi pelo dito Impressor 1737. 12
Novas Horas Seraficas Latinas, e Portuguezas. Lisboa pelo dito Impressor 1740. 12.
Despertador Catholico exposto m os quatro Novissimos do homm, e em os Passos da Paixaõ de Iesu Christo. Lisboa por Pedro Ferreira. 1741. 12.
Remedio contra o terrivel mal da peste aplicado em nove dias distribuido em nove setas do nome do soberano, glorioso, e invicto Martyr S. Sebastiaõ. Lisboa por Francisco da Silva 1743. 4.
Tributo de obsequios a Senhora Santa Anna. Lisboa por Pedro Ferreira. 1744. 12.
Suspiros a Deos menino antes de nacido ibi pelo dito Impressor 1744. 12.

GONÇALO LUCENA DE CARVALHO

Nota bibliografica segundo:
- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO II, pagina 395


GONÇALO LUCENA DE CARVALHO natural de Alcacer do Sal em a Provincia do Alentejo. Teve nacimento illustre, engenho agudo, e genio particular para a Poezia em que compoz diversas obras, que podiaõ eternizar a sua memoria se sahissem à luz publica, que fatalmente lhe impedio a morte privando o intempestivamente da vida. Entre as suas produçoens poeticas merece a primazia.

Poema heroico da Batalha do Campo de Ourique. Cuja obra ouvio muitas vezes ler por seu author o grande antiquario Manoel Severim de Faria, e o louva de ornado de excellente espirito em huma Carta escrita de Evora a 15 de Julho de 1647 a Antonio de Magalhaens Peixoto a qual está entre as suas Originaes, que vimos a fol. 126 v.º Tambem louvaõ o seu poetico furor Joan. Soar de Brito Theatr. Lusit. Liter lit. G n 19 e D. Francisco Manoel Carta dos AA. Portug escrita ao Doutor Themudo

IOAÕ BAPTISTA DE SIQUEIRA

Nota bibliografica segundo:
- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO II, pagina 602


IOAÕ BAPTISTA DE SIQUEIRA natural da Villa de Monte mòr o novo em a Provincia do Alentejo formado em a Faculdade da Iurisprudencia Civil, e muito aplicado ao estudo da Historia. Compoz.


Antiguidades da Villa de Alcacer do Sal. M. S.

Sor MARIA DA APRESENTAÇAM

Nota bibliografica segundo:

- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO III, pagina 429.

Sor MARIA DA PRESENTAÇAM, natural da Cidade de Faro em o Reino do Algarve, e Religiosa do Serafico Convento de Ara Caeli situado em a Villa de Alcacer do Sal, onde foy Mestra da Ordem, Vigaria do Coro, e Escrivãa do Convento. Por ser muito devota das Almas do Purgatorio instituhio huma Irmandade que hoje se acha muito augmentada para alivio das penas que padecem. Falleceo com evidentes sinaes de Predistinada junto do anno de 1654. Escreveo

Noticias das Religiosas, que lhe precederaõ em o Convento onde viveo, e morreo, e das que professaraõ depois de ser já professa. M. S. 4.

IOZEFA THEREZA DO MONTE CARMELO

Nota bibliografica segundo:
- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO II, pagina 911.


IOZEFA THEREZA DO MONTE CARMELO natural da Villa de Alcacer do Sal antiga Colonia dos Romanos em a Provincia Transtagana, filha de Nicoláo Coelho da Costa Capitaõ de Cavallos, e de D. Inez Maria de Mattos. Na tenra idade de tres para quatro annos entrou no Convento de Santa Clara de Evora onde professando a 8 de Setembro de 1721 exercitou o lugar de Vigaria do Coro, e de Mestra das Cerimonias em que he taõ perita, como publica a seguinte obra, que compoz.

Norma directiva de Cerimonias para as Senhoras Abbadessas da esclarecida Ordem Serafica em que se trata dos ritos particulares, que devem observar nos actos solemnes da Religiaõ com o uso do Bago, e taõbem se mostra o poder, e jurisdiçaõ que tem nos seus Mosteiros segundo o sentir de varios Authores com outras muitas singularidades, e preeminencias pertencentes ao supremo lugar da Prelasia. Madrid. 4
Sem anno da Impressaõ, e nome do impressor. Hum exemplar desta obra vimos na selecta Livraria de meu Irmaõ D. Iozè Barbosa Clerico Regular.

sexta-feira, abril 06, 2007

ANTONIO SALEMA, séc. XVI

Ilha de São Tomé

Área de Cabo Frio - Estado do Rio de Janeiro (Brasil)


Nota bibliografica de ANTONIO SALEMA segundo:
- Diogo Barbosa Machado, 1741, BIBLIOTHECA LUSITANA, TOMO I, páginas 382-383.

ANTONIO SALEMA, natural da antigua Villa de Alcacer do Sal da Diocese de Evora. Teve por Pays a Diogo Salema, e a Catherina Salema sua Prima. Foy Licenciado em Leys, e hum dos primeiros Collegiais do Collegio Real de S. Paulo admitido a 2 de Mayo de 1563. Depois de ler huma Cathedrilha de Instituta subio à Cadeira do Codigo no anno de 1567 onde dictou a Postilla ao Tit. Cod. De Fide instrumentorum, e outra ao Tit. Cod. Plus valere quod agitur, quàm quod fimulate concipitur. Sendo Dezembargador da Casa da Supplicaçaõ de que tomou posse por seu Procurador o Dezembargador Diogo Lameira a 16. de Março de 1570. foy mandado com huma Alçada a Pernambuco por ordem delRey D. Sebastiaõ, e depois de concluida esta incumbencia foy Governador de S. Thomé
[1], e do Rio de Janeiro[2]. Voltando ao Reyno foy nomeado Dezembargador dos Aggravos a 19 de Fevereiro de 1583. Cazou com D. Luiza de Siqueira filha de Affonso Bicudo, e de Izabel de Siqueira, a qual por morte de Antonio Salema seu primeiro marido passou a segundas vodas com Francisco de Almeida de Vasconcellos Secretario de Estado de Portugal em Madrid. Falleceo em Lisboa a 13 de Março de 1586. Jaz sepultado no Convento de S. Francisco. Fazem memoria delle Cabed. De Patronat. Regio cap. 44 D. Nic. De Santa Maria Chron. Dos Coneg. Reg. Liv. 10. cap. 7 n. 9. Sachin. Hist. Societ. Part.4. lib.2. n.172. e meu Irmaõ o P. D. Jozè Barbos. Nas Mem. Histor. Do Colleg. Real de S. Paul. Pag.82 n.7. e no Archiathaen. Lusit. P.15.
Impavidus Çalema levi vada salsa carinà
Trajiciet, cinctosque armis ruet acer in hostes:
Viribus at fractos, vanoque furore tumentes
Fuditus evertet, patriasque remittet ad auras
Compoz
Tratado da Conquista, que fez do Cabo frio
[3] contra os Franceses, e o Gentio Tamoyo, que nelle estavaõ fortificados. M. S. De cuja obra se lembra Maris dialog. De varia Hist. Dial.5. cap.2.

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[1] Corresponde actualmente à Ilha de São Tomé, que se situa no Golfo da Guiné, na zona equatorial.
[2] Na época correspondia à Capitania dada em 1532 por iniciativa regia a Lopo de Sousa, de forma a terem autonomia para defenderem o território e o desenvolverem. Entretanto este modelo foi abandonado e em resposta militar contra o projecto francês de colonização da região, Estácio de Sá funda a povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro, no dia 1 de Março de 1565, como base militar portuguesa na Baia de Guanabara. Inicicialmente a povoação ficava junto ao actual Pão de Açucar, passando por iniciativa de Mem de Sá mais para o interior da Baia de Guanabara por volta de 1567-1568. Será esta nova localização da povoação que irá conhecer António Salema quando inicia a governação do Rio de Janeiro. Os franceses entretanto expulsos da Baia de Guanabara, mantem-se na zona do Cabo frio, sendo explusos definitivamente em 1575. Este feito militar será relatado por Antonio Salema.
[3] Região oriental do actual Estado Brasileiro do Rio de Janeiro, na zona de fornteira com o Estado do Espirito Santo.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Pequenos Notas sobre o Republicanismo segundo o jornal Pedro Nunes (1908-09)


Miguel Coquilho


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Origem e objecto do trabalho.

Titulo: Pedro Nunes
Subtítulo: Semanário republicano
Local: Alcácer do Sal
Periodicidade: Semanal
Propriedade: Comissões de Grândola, São Tiago do Cacem, Alcácer do Sal e Torrão
Direcção: Adriano Augusto de Matos
Administração: António Manuel Telles
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A perspectivação que o jornal Pedro Nunes, ao longo do período de dois anos (1908-09) compreendeu, remete-nos para o estudo dos últimos anos da monarquia, caracterizada pelo agravamento da instabilidade governativa, que viria a culminar com a ditadura de João Franco Pinto Castelo – Branco. Iniciara sua carreira política como deputado do partido regenerador na cidade de Guimarães em 1886. Ulteriormente em 1893, atribui um conjunto de criticas à vida administrativa e financeira do partido progressista, a que se seguiu a recusa em continuar em participar no governo do partido regenerador, no período compreendido de 1897-1900, dando origem com a sua desidência ao partido regenerador liberal.
Centrando o seu ideário num novo tom messiânico que remetia para uma nova vida, objectara o arbítrio propugnado pelos esquemas rotativistas, numa base constitutiva nacional, supra partidária. cujo desiderato seria a constituição de uma monarquia de cariz despótico, em que as preocupações sociais seriam prioritárias, mediante um Estado mais interventor
[1]no período designado por franquismo.
Iniciado quando D. Carlos lhe resolve atribuir o poder, como de um homem providencial se tratasse, autorizando-o a formar governo em 17 de Maio de 1906 perante o agravamento da crise financeira que por Portugal perpassava. A que era inerente cada vez mais a ameaça de bancarrota, resultante da precedente politica financeira preconizada pelo fontismo. Junto aos escândalos da campanha dos tabacos e consequente demissão de Hintze Ribeiro. Visto a conflituosidade entre o liberalismo monárquico e neoliberalismo republicano, se encontrar cada vez mais agudizada.
O que levara Franco a reconhecer que a sua continuidade no governo, só estaria assegurada, caso fosse viável um conjunto de medidas, mediante a construção de uma estratégia legislativa, tendente à redução da liberdade de expressão/informação num clima de censura aos jornais existentes, propalado pelos governadores civis; controle das eleições municipais; maiores competências aos juízes de instrução criminal; por fim, a questão dos «adeantamentos» à casa real, com que mantinham os palácios e tudo que lhes estivesse acoplado. Directamente conexionados com as enormes dividas que possuíam face ao erário público. Que Franco intitulara de ilegais, a fim de comprometer os ministros antecessores que teriam atribuído anonimamente ao rei quantias, afirmando-se desta forma como «único estadista honesto e liberal da história portuguesa»
[2]
Vindo a despoletar a propaganda republicana contestatária à monarquia, segundo a qual não estavam reunidas as condições necessárias para levar a cabo um conjunto de reformas, perante o total descrédito que o país se mantinha a atravessar. Patente no índice de trabalhadores descontentes com as dificuldades diárias que passavam., progressivamente mais identificados com republicanismo.
Que se prendia ao desenvolvimento de toda uma estratégia que pretendia por em prática, conducente á tomada de poder que viria a culminar com a revolta de 5 de Outubro de 1910. Assumindo-se como alternativa, direccionando seus interesses para a construção de uma base eleitoral de apoio dirigida sobretudo aos meios rurais, visto Portugal ser predominantemente um país onde abonava a ruralidade
[3]. Estruturando – se em comissões politicas paroquias, municipais e distritais.
Que o periódico republicano Pedro Nunes constituíra exemplo, ao se instituir em órgão das comissões politicas de Grândola, São Tiago do Cacem, Alcácer do Sal e Torrão do Alentejo, quando veiculou as suas criticas à monarquia cada vez mais débil e condicionada pela subserviência ao estrangeiro. Enquadrada pelo sintomático alheamento e desprezo pelos problemas nacionais, que cada vez mais a desacreditavam. Iludidos com o programa de governo, cada vez mais afastado da população pouco instruída, farta de ser mal governada, que se reflectira aquando as eleições
[4].
De forma a combater esta corrupção implicava educar civicamente o povo, tornar os cidadãos mais cultos, para isso só havia uma saída possível mas, para alcança-la, seria necessário tornar os portugueses mais capazes, conscientes dos seus deveres enquanto cidadãos, eliminando o analfabetismo, com maior número de escolas para que assim pudessem ser mais frequentadas, instaurando a plena democracia. Conjuntamente com a crítica à máquina eleitoral vigente, através da mobilização do eleitorado, exercendo de forma premente a sua cidadania
[5]. Face à complexidade da situação que só seria possível resolver na sua plenitude, se fosse debelada a questão económica[6].
Deveria ser às influências exercidas na educação promovida. Nomeadamente as concernentes ao jesuitismo e catolicismo que surgiam correlacionados. Porquanto objectivavam a manutenção de um estado teológico e metafísico no ensino divulgado no país. Cujos interesses conflituantes com a democracia, defendiam a monarquia como regime, objectando ao progresso com a divulgação da doutrina ultramontana. Assim sendo estabelecera-se as criticas às congregações instituídas, expondo o papel do jesuíta, conotado com a dominação e exploração do povo
[7]. Perseguidores da imprensa opositora ao regime «o gabinete negro funciona franquisticamente urdindo a teia em que envolve o depauperado arcaboiço da imprensa já tão espicaçado pelo cumprido aguilhão das querelas»[8]
Por seu turno ganha relevância gradualmente o laicismo, com a construção de um projecto educativo, subtraindo o cidadão à influencia exercida pela socialização dos valores religiosos, tornando-o racional e autónomo e imune à politica da religião. Na exacta medida em que seria necessário formar uma opinião pública, de modo a levar a cabo a secularização das instituições, promovendo a completa laicização da sociedade. Único modo de republicanizar na totalidade a sociedade.
Neste contexto importava ao Estado criar as condições necessárias, obstando à leccionação dos reaccionários monárquico – clericais, «dai que a tendência hegemónica no anticlericalismo republicano estivesse ciente, de que a inoculação de uma moral social livre de qualquer fundamento transcendente e a interiorização de uma religiosidade de vocação exclusivamente cívica, desempenharia a função sociabilitária que coube à religião até ao advento da era da positividade»
[9].
Então poder-se –à dizer que o resultado deste combate por parte do jornal Pedro Nunes ia de encontro à emancipação do individuo, única maneira de contrariar o caciques instaurados desde as grandes cidades até às províncias. Seleccionados entre os notáveis locais segundo o seu estatuto social, o que lhes conferia maior preeminência patenteada nas elites possidentes concelhias com maior controlo dos recursos.
Mediando os interesses do poder local junto da administração central, valendo-se do seu prestigio profissional. Distribuídos por uma categorização profissional diversificada abrangente, que comportava: advogados; médicos; professores e padres. Angariando o conjuntamente com os seus dependentes por entre a população o maior numero de votos, na expectativa de serem ressarcidos de bens e empregos para si como para sua família
[10].
Retratado pelo Pedro Nunes quando referencia a percentagem de votos à altura das votações, expressando que o voto na maior parte das localidades, do nosso pais, não chegava a uma décima parte da população residente que ao voto tinha direito. Ao que se juntava a inexistência das mesas eleitorais, que na maioria das vezes nem chegavam a ser construídas, apesar de se encontrarem registadas em acta, o que obscurecia totalmente todo o processo eleitoral
[11].
Porquanto os caciques, perpetuavam a exploração económica servindo-se da miséria instaurada nos votantes, cerceando-lhe em larga medida a independência aquando o voto
[12]. O que denota que o Pedro Nunes indiciava uma matriz republicana socializante explicita na defesa da associação e o colectivismo, de acordo com o imaginário social republicano. Ao evidenciar com a «associação» as condições necessárias de molde á sociedade civil se autonomizar[13].
Concertando as opiniões com a coesão de todos os princípios e ideias, com o apelo à organização das classes existentes, como de exércitos se tratassem guerreando por maiores reivindicações sociais – única forma de evolucionar a sociedade, alcançando a democracia. Sistematizado num «colectivismo» incompatível com o individualismo que negava as leis do progresso e da evolução, o que originava que o povo português fosse do mais refractários a associar-se
[14].
O que determinara que inequivocamente o acto eleitoral existente se fundamentasse na ignorância, tendo como mote a opressão das classes inferiores pelos mais privilegiados, a quem subsequentemente estaria implícito um tributo, fôro, que por conseguinte fez com que o voto em Portugal representasse um «mecanismo do regime feudal», resultante da apatia por parte do Estado quanto à generalização de um sistema educativo condizente com a necessário aperfeiçoamento do homem
[15]. Postulado que se traduzia pelo respeito das convicções de cada um, valor fundante que levara à construção da Republica Universal[16] A que se inferia a critica aos falsos orientadores de consciências, manifestando o seu apelo ao proletariado enquanto base social de apoio do republicanismo, desconhecedores dos direitos que o assistiam[17].
Noutra vertente o federalismo, ao qual estava subjacente um modelo político e administrativo que procurava acentuar sobretudo a corrente municipalista. No seu ideário radicava a critica ao estado unitário e centralista por não promover o sufrágio universal, levada a efeito pela divisão da nação portuguesa em governos autónomos. Mediante um conjunto de propostas, com maior autonomia governativa e administrativa para os intitulados grupos naturais detentores do poder, como os municípios, paróquias e províncias em que o poder central permaneceria assente numa assembleia federal entretanto eleita por sufrágio directo, da qual dependia por delegação o poder executivo.
Visava reconhecer maior representatividade das minorias, exponenciando maior representatividade para a vontade popular. O combate «à independência dos eleitos em relação aos eleitores veio a concretizar tanto quanto possível o antigo ideal da democracia directa, pois o candidato ficava explicitamente vinculado a um programa e, caso o violasse no exercício do seu cargo, o mandato poderia ser revogado»
[18] de acordo com a República Democrática e Federal Portuguesa que pretendiam implementar.
Viabilizada na crítica ao centralismo com o qual a monarquia corrompera a máquina eleitoral, negando o sufrágio universal, permitindo que o dinheiro permanecesse nas mãos de alguns favorecidos. Não criando riqueza pública, desbaratando sim o erário publico. Subsequentemente os níveis de desemprego aumentariam, como também a carestia da vida, que o Pedro Nunes explícita quando nos diz que:
«….esse numeroso pessoal, organizado hierarquicamente e fortemente disciplinado é o mais poderoso instrumento de despotismo – que outro não é o regime centralista. Os defensores de um tal sistema invocam para o justificarem o pretexto seguinte: que as localidades, como os simples cidadãos, carecem absolutamente de capacidade administrativa. E dai a dura necessidade de se submeterem com se fossem menores à tutela doa Estado. «eles(realeza) são suficientemente hábeis para reconhecer que a melhor escora da realeza, desacreditada e periclitante, com está entre nas o sistema centralista.Com poderia ele sustentar-se , se não tivesse dependente da sua mão todas as forças vivas do país? Como poderia sem a poderosa máquina centralista corromper, ou violentar o sufrágio?»
[19]


Conclusão

Terminada a analogia ao Jornal Pedro Nunes, verifico que o seu principal objectivo seria propagandear o novo ideário republicano, criando as condições necessárias à implementação de um regime democrático, levado a cabo construindo um projecto educativo direccionado ao cidadão.
O que por seu turno implicava anular as barreiras instituídas, na medida em que insistiam em perpetuar um horizonte mental que não se compadecia com a república universal que o republicanismo advogava. Efectivado pelo Pedro Nunes quando procurara por em prática uma politica desenvolvimentista conducente à maior autonomia, com base num ensino racional e progressivo de molde a evolucionar a sociedade. Com efeito interessava combater os poderes presentes, destacando-se uma monarquia decadente, coadjuvada por uma religiosidade cerceadora da liberdade individual patenteada na companhia de Jesus. Indiciada pela a monarquia – constitucional que até 1908-09 vigorara, quando defendera a funcionalização do clero, de molde a assegurar a construção de uma novo Estado – Nação. O que para o republicanismo não seria o bastante, defendendo em alternativa uma religião cívica. Descristianizando o estado com a secularização das instituições, veiculada por um ensino neutro levado a efeito por uma escola neutra. Construindo uma opinião publica esclarecida aquando a realização das eleições.
Assim sendo o Pedro Nunes revela as medidas opressoras postas em prática por um centralismo – unitarista redutor e/ou corruptor da autonomia local, com uma matriz federalista – socializante, promovida por um colectivismo obstrutor do individualismo, veiculando maior união entre o conjunto formado por todos os cidadãos. Aduzindo directamente ao caciquismo que estendiam a mão do poder central às províncias, onde se encontrava o maior numero de votantes, dado que Portugal sobretudo seria um Pais rural.
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Fontes:

Jornal Pedro Nunes: anos 1908 e 1909

Bibliografia:

ALMEIDA, Pedro Tavares de
Eleições E Caciquismo No Portugal Oitocentista (1868-1890). Lisboa, Difel, 1991.
CATROGA, Fernando
O Republicanismo em Portugal da formação ao 5 de Outubro de 1910, Lisboa, Editorial Noticias, 1991.
MARQUES, António H. de Oliveira
Ensaios de História de 1 republica Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 1988.
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[1] Vide Fernando Rosas «João Franco» in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, p 271.
[2] Vide, Rui Ramos, João Franco e o Fracasso do reformismo liberal (1884 – 1908), por página
[3] Vide A H. de Oliveira Marques, Ensaios de História da 1 República Portuguesa, p.12.
[4] Vide «Depois da Tragédia» in Pedro Nunes nº81, de 9/02/1908, p1.
[5] Vide Alda Guerreiro «Instruir é vencer» in Pedro Nunes nº133 de 14/02/1908,p.1.
[6] Vide Brito Camacho «O problema da miséria» in Pedro Nunes nº138 de 21/03/1908,p.1.
[7] Vide Jacinto Nunes, «A liga anti – clerical ou anti – jesuítica» in Pedro Nunes nº 105 de 7/08/1908, p.1
[8] Vide Styl, «Chronica de Lisboa» in Pedro Nunes nº130 de 24/01/1908, p.1.
[9] Vide, Fernando Catroga, «O laicismo» in O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910, p.221
[10] Pedro Tavares de Almeida, «Caciques, galopins e clientes» pp129-131.
[11] Vide «Semana Politica» in Pedro Nunes nº85, de 8/03/1908.p.2
[12] Vide «Semana Politica» in Pedro Nunes nº90, de 12/04/1908,p.1.
[13]Vide, Fernando Catroga, As organizações republicanas. Movimento Politico e Partido. O Associativismo e os direitos sociais» in O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910,pp.11-43.
[14] Vide Benjamim A. Rodeia, «Associação» in Pedro Nunes nº86, 15/03/1908, p.1.
[15]Vide «Semana politica» in Pedro Nunes nº88, de 29/03/1908, p.1.
[16] Vide «O que é ser republicano» in Pedro Nunes nº105, de 7/08/1908,p.1.
[17] Vide Jorge Nunes «Instrução, liberdade e Progresso» in Pedro Nunes nº111, de 13/10/1908.
[18] Vide Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910,p.46.
[19] Vide Jacinto Nunes, «O Regime centralista» i n Pedro Nunes nº119, de 8/11/1908,p.1.