quinta-feira, novembro 23, 2006

Cancioneiro do Sado - Jornal Pedro Nunes: VI Parte e Conclusão


Santuário de Santa Maria dos Mártires, actualmente denominado Senhor dos Mártires. Panteão de alguns Mestres da Ordem de Santiago.

Damos por concluida esta fase de recolha de poesia de raiz popular, cantada pela gente anónima da nossa região de Alcácer, tal como foi publicada pelo Jornal Pedro Nunes, no início do século passado. Tivemos como base de análise, os dois volumes encadernados que se encontram à guarda da Biblioteca Municipal de Alcácer. Na eventualidade de encontrar outros numeros deste jornal, daremos inicio a uma segunda série de recolhas. Aguardamos os vossos comentários, ou a indicação da existencia de outros Cancioneiros e poesia deste Sado Alcacerense, onde nos recantos deste rio, na charneca e montado, nos montes, no silencio da intimidade, brota uma poesia cheia de sabedoria e anseios, numa forma especial de viver...que só nos sabemos...
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Jornal nº 139, 28 de Março de 1909

Amor não me´screvas,
Cartas em latim,
Que eu não as sei ler.
São paixões p´ra mim.


Se das mesmas cartas
Teimas em ´screver,
São paixões p ´ra mim
Que eu não as sei ler.


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Jornal nº 140, 4 de Abril de 1909

Minha q´rida mãe
Tudo sei fazer
Menos namorar
Eu hei de aprender.


O pouco que falta
P´ra poder casar
Eu hei de aprender
Menos namorar.


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Jornal nº 141, 11 de Abril de 1909

Gosto de cantar
Com quem canta bem,
Gosto de ter graças
Com quem graças tem.


P´ra que acceites sejam
As minhas chalaças,
Com quem graças tem
Gosto de ter graças.


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Jornal nº 142, 18 de Abril de 1909

Menina de luto
Seu pae lhe morreu,
Já não vale tanto…
Como já valeu!


Embora a menina
Se desfaça em pranto,
Como já valeu…
Já não vale tanto.


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Jornal nº 143, 25 de Abril de 1909

DESCANTE

Elle

O´minha menina
Viva descançada,
Da sua belleza
Não pretendo nada.


Se quer que lhe fale
Com toda a franqueza,
Não pretendo nada
Da sua belleza.


ELLA

Nobre cavalheiro,
A minha belleza
Que o não enfeitiça
Eu tenho a certeza.


Até a menina
Que agora derriça,
Eu tenho a certeza
Que o não enfeitiça.


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Jornal nº 144, 2 de Maio de 1909

Assim não me custa
Subir a ladeira,
Somente receio
Que o teu pae não queira.


Meu bem p´ra te ver
Descobri o meio,
Que o teu pae não queira
Somente receio.


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Jornal nº 145, 9de Maio de 1909

Amor não me escrevas
Que me mata mais,
Cartas são papeis
Lettras são signaes.


Pois já me aborrecem
Os seus aranzeis,
Lettras são signaes
Cartas são papeis.


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Jornal nº 146, 16 de Maio de 1909

Tenho ódio aos pães
Da minha adorada,
Pois me dão a filha
Por mal empregada.


Malditos que lêem
P´la mesma cartilha.
Por mal empregada
Não lhes quero a filha.


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Jornal nº 147, 23 de Maio de 1909

Não vejo o meu bem
Senão ao domingo,
Em toda a semana
Em chorar me vingo.


Somente em pensar
Que elle me engana,
Em chorar me vingo
Em toda a semana.


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Jornal nº 148, 30 de Maio de 1909

Anda cá meu bem
Anda cá, vem ver,
Amorinhos novos
Qu´eu ´stou para ter!


Vê lá se me arranjas
Uma assorda d´ovos,
Qu´eu s´tou para ter
Amorinhos novos.


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Jornal nº 149, 6 de Junho de 1909

O meu coração
A tudo se anima,
Recebe desfeitas
De quem mai estima


Em tudo consente
Nunca tem suspeitas,
De quem mais estima
Recebe desfeitas.


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Jornal nº 150, 13 de Junho de 1909

O meu coração
Em tudo é valente,
Mesmo com ciúmes
Vive alegremente.


Da vida dos outros
Não toma os costumes,
Vive alegremente
Mesmo com ciúme.


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Jornal nº 152, 27 de Junho de 1909

Adeus oliveiras
Adeus olivaes,
Adeus meu amor
Para nunca mais.


Desculpem se fujo
Como um desertor,
Para nunca mais…
Adeus meu amor.


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Jornal nº 153, 4 de Julho de 1909

O meu lindo amor
Tem bonitas prendas,
Não gosta de vinho
Nem joga nas vendas.


Como elle não há
Tão bom rapazinho,
Não joga nas vendas.
Nem joga nas vendas.


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Jornal nº 154, 11 de Julho de 1909

O´moças não queiram
Amar o meu bem,
Elle ainda não foi
Leal a ninguém.


Pois alem de ter
Força como um boi,
Leal a ninguém
Elle inda não foi.


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Jornal nº 155, 18 de Julho de 1909

Deixa-te estar rosa
Na tua roseira,
Para mal casada
Mais vale solteira.


Para não viveres
Bem acompanhada,
Mais vale solteira
Que mal casada.


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Jornal nº 156, 25 de Julho de 1909

Já não há quem ouça
Cantar um ganhão,
Só lá na lavoura
Tanto á língua dão!


Julgam que a mulher
E´d´elles vassoura,
Tanto á língua dão
Só lá na lavoura!


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Jornal nº 157, 1 de Agosto de 1909

Se fores a Elvas
Vae á piedade,
E´a melhor coisa
Que tem a cidade.


Não deixes de ver
Do meu bem a lousa,
Que tem a cidade
E´a melhor coisa.


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Jornal nº 158, 8 de Agosto de 1909

O´amor, amor,
O´amor vadio,
Já há tanto tempo
Que andas arredio.


Eu tenho soffrido
Muito contratempo,
E tu arredio
Já há tanto tempo.


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Jornal nº 159, 15 de Agosto de 1909

Triste coração
Alegra-te agora,
Aqui tens á vista
Um bem que te adora.


Se do meu amor
Tu andas na pista,
Um bem que te adora
Aqui tens á vista.


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Jornal nº 160, 22 de Agosto de 1909

Eu tenho-te dito
Tu tens ateimado,
Agora é que temos
O caldo entornado.


D´essas teimosas
O resto veremos,
O caldo entornado
Agora é que temos.


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Jornal nº 161, 29 de Agosto de 1909

Adeus oliveiras
Adeus olivaes,
Adeus meu amor
Para nunca mais.


Eu sei que te faço
Com isso favor,
Para nunca mais
Adeus meu amor.


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Jornal nº 162, 5 de Setembro de 1909

Amor de viúvo
Amor bandoleiro,
Quanto mais não vale
Um rapaz solteiro.


Em amor p´ra velhos
Meu pae não me fale.
Um rapaz solteiro
Quanto mais não vale.


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Jornal nº 163, 12 de Setembro de 1909

Estás bem de preto
Senão fosse o dó,
Paciência amor
E´um anno só.


Satisfaz o mundo
Que elle é impostor,
E´um anno só
Paciência amor.


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Jornal nº 164, 19 de Setembro de 1909

Considera amor
Ao depois não digas:
- As mulheres são
Como as raparigas.


Se o amor não é
Sincera paixão,
Como as raparigas
As mulheres são.


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Jornal nº 165, 26 de Setembro de 1909

Eu hei de te amar
Eu hei de te querer,
Sem teu pae sonhar
Sem teu pae saber.


Sempre que poder
Te hei de falar,
Sem teu pae saber
Sem teu pae sonhar.

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