quarta-feira, novembro 15, 2006

O Cancioneiro do Sado - Jornal Pedro Nunes: III Parte



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Jornal nº 99, 15 de Junho de 1908

Amor se te fôres
Leva-me também,
Em tua companha
Sempre eu ando bem!...


Embora só coma
Feijão e castanha,
Sempre eu ando bem
Em tua companha!...


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Jornal nº 100, 21 de Junho de 1908

O meu bem se foi,
Nem adeus me disse
Nunca tive penas
Que menos sentisse.


Como elle só gosta
De moças morenas,
Que menos sentisse
Nunca tive penas.

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Jornal nº 101, 28 de Junho de 1908

O senhor dos Martyres
Lá da carvalheira,
É o pae dos pretos
D´aquela ribeira.

S´nhor João da Costa
Quem lh´o diz sou eu!...
Se elle é pae dos pretos…
Também elle é seu.


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Jornal nº 102, 12 de Julho de 1908

Parece-me amor
Que tu me dizias:
Logo me ´screvias.



Caso te fizessem
Ir ao mel, à serra,
Logo me ´screvias
Em chegando á terra.


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Jornal nº 103, 19 de Julho de 1908

Amor dá-me um ramo
Do teu mangerico,
São obrigações
Que a dever te fico.


Satisfaz-me tu
Minhas petições,
Que a dever te fico
Mil obrigações.


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Jornal nº 104, 26 de Julho de 1908

Andam os rapazes
Dizendo p´la rua:
- Aqui móra a minha,
ali móra a tua.


A minha da tua
Vem a ser visinha.
Ali móra a tua,
Aqui móra a minha.

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Jornal nº 105, 2 de Agosto de 1908

O´Elvas, ó Elvas,
Badajoz á vista.
Já não faz milagres
S. João Baptista.



Para quem navega
No porto de Sagres,
S. João Baptista
Já não faz milagres.

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Jornal nº 106, 9 de Agosto de 1908

Emquanto não tive
Comtigo contractos,
´Stragava de menos
Um par de sapatos.


Antes d´eu gosar
Teus lindos acenos,
Um par de sapatos
´Stragava de menos.



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Jornal nº 107, 16 de Agosto de 1908

Lá em s. Mamede
Já se não diz missa,
Queimaram-se os santos
Que eram de cortiça!


Devastando o fogo
As c´roas e mantos,
Por serem de cortiça
Queimaram-se os santos.


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Jornal nº 108, 23 de Agosto de 1908

Quem quizer fazer
Um ladrão bem feito,
Alevante a fala
Não puxe do peito.


Que as notas lhe saiam
Como por escala,
Não puxe do peito
Alevante a fala.

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Jornal nº 109, 30 de Agosto de 1908

Lá em Valle de Guiso
Não se pode estar,
´Stá lá um prior
Que em todos quer dar.


Já da freguezia
Se julga senhor,
E em todos quer dar
Tão bello prior.



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Jornal nº 110, 6 de Setembro de 1908

O meu amor se foi
A´segunda feira,
Deixou-me saudades
P´r´a semana inteira.


Como foi sósinho
Vêr outras herdades,
P´r´a semana inteira
Deixou-me saudades.

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Jornal nº 111, 13 de Setembro de 1908

Senhor dos Martyres
Meu rico santinho,
Hei de convidal-o
Para meu padrinho.


Quando me casar
Irei adoral-o,
Para meu padrinho
Hei de convidal-o


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Jornal nº 112, 20 de Setembro de 1908

Se algum dia fores
A´salvada á missa,
Emprega os teus olhos
N´uma campaniça.


Se quer´s que te tenham
Amisade, aos molhos,
N´uma campaniça
Emprega os teus olhos.


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Jornal nº 113, 27 de Setembro de 1908

Já não tenho pae,
Nem mãe, nem ninguém,
Sou um desgraçado
Que´este mundo tem!


Nem tenho parentes
Por quem seja olhado,
Qu´este mundo tem
Mais um desgraçado!


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Jornal nº 114, 4 de Outubro de 1908

Pega na viola
Fal-a retinir,
Meu amor ´stá longe
Fal-o aqui vir.


´Stando em companhia
D´um beato monge
Fal-o aqui vir,
Meu amor ´stá longe.

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