quarta-feira, novembro 22, 2006

Jornal Pedro Nunes: Uma Poesia Alcacerense escrita em 1876, dedicada a uma jovem de nome Margarida.

Vale da Marafona, Ribeira de S. Martinho nos arredores de Palma/Alcácer do Sal

O poema escolhido encontra-se publicado no nº 124, de Domingo, dia 13 de Dezembro de 1908, página 1.

Poesia Inédita

O Pedro Nunes tem varias vezes falado do …. Alcacerense Jacob Rodrigues, mas parece-nos que ainda não deu uma amostra da sua inspiração, o que hoje faz satisfazendo a natural curiosidade dos seus leitores, com a publicação d´uma poesia pastoril intitulada «A Margarida», escripta quando o poeta contava 23 annos, em Junho de 1876.
Sendo escripta há 30 annos, parece que o foi agora, ao som dos doces gorgeios dos rouxinoes enamorados, que desde o apparecimento dos rosados clarões da aurora até alta noite, soltam na espessura dos silvados em flor, as suas sentidas endeixas amorosas.
Segue a poesia, e deve notar-se que não foi n´este género em que Jacob Rodrigues mais se salientou.



A Margarida

Margarida quando vejo,
Os teus olhos maganões;
Até o meu coração,
Se desfaz em pulsações!


Quando te vejo á janella,
Encostada ao para-peito,
Fico doido só de ver
O teu rosto tão perfeito…


Mal que rompe a madrugada,
Já tu, alegre, cantando,
O teu rebanho acompanhas,
E a tua voz vaes soltando.


E´tão doce a tua voz,
Que o coração faz pulsar!...
Quando cantas bem pareces
Um rouxinol a cantar!


No prado andas alegre,
Até ao findar do dia:
E á noite voltas p´ra casa,
Sempre co´a mesma alegria!


Quando aos domingos tu vestes
A roupinha cor de grão;
Pões o lencinho encarnado,
E o teu lindo cabeção,


Ficas tão bella que até,
(Posso dizer com franqueza)
Aqui p´lo sitio não há,
Quem te egual em gentileza!


Mal que o sino annuncia,
Da missa a hora chegada;
Corres logo p´ra egreja,
Sem te importares de maia nada.


E és tão bella, Margarida,
Quando vaes para a egreja;
Que as outras moças da aldeia,
Até se mordem d´inveja!


E é verdade – cá na aldeia
Não há moçoila, acredita,
Que tenha tão bella voz,
Ou que seja tão bonita!


Ainda tenho o annel,
Que me deste o mez passado;
Eu não o trago no dedo,
Porque o tenho bem guardado.


Mal sabes tu quando o vejo
A alegria que exp´rimento…
Tu o verás Margarida,
No dia do casamento.


Acredita, brevemente,
Hei de comtigo casar;
Se do maldito sorteio,
A fortuna me livrar.


Que o seu prior já me disse:
«Podes estar descançado…
«Que eu cá irei trabalhando,
«P´ra te livrar de soldado».


Por isso quando te vejo,
Da janella ao para-peito;
Fico doido só de ver,
O teu rosto tão perfeito!


Jacob Rodrigues.

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