segunda-feira, novembro 27, 2006

Cancioneiro do Sado - Jornal Pedro nunes: 2ª Série, III Parte

Estuário do rio Sado. Ao fundo a serra da Arrábida, na zona do Risco.

Algures a norte de Alcácer, na zona do estuário do rio Sado.
_______________________________________
Jornal nº 206, de 10 de Julho de 1910

Cautella Maria
Co´os teus palavrões,
Que a gente vê caras
Sem vêr corações!


Vê bem com quem falas,
Pois tu não reparas
Bem vêr corações
Que a gente vê caras?!


______________________________________________
Jornal nº 207, de 17 de Julho de 1910

Meu bem anda triste
Anda imaginario,
Eu bem o conheço
Pelo seu duario.


Parece-me que eu
Tambem lhe aborreço
Pelo seu duario
Eu bem o conheço.


_________________________________________
Jornal nº 208, de 24 de Julho de 1910

Amores, amores,
Como eu tenho tido,
Se agora os não tenho
Teem-me morrido.


Por lindos amores
Sempre eu fiz empenho,
Teem-me morrido
Se agora os não tenho.


__________________________________________
Jornal nº 210, de 7 de Agosto de 1910

Não chores amor
Que eu não vou morrer,
Dá graças a Deus
Qu´inda me has de vêr.


Vou servir o rei
Por peccados meus,
Qu´inda me has de vêr
Dá graças a Deus.


__________________________________________
Jornal nº 211, de 14 de Agosto de 1910

Não chores amor
Que a desgraça é minha,
Isto são dois annos
Que eu sirvo a rainha.


Obrigam-me a ir
Servir os tyrannos,
Que eu sirvo a rainha
Isto são dois annos.


________________________________________
Jornal nº 212, de 21 de Agosto de 1910

Eu não sei cantar
Nem armar cantigas,
Todos os meus enlevos
São as raparigas.


Quando ellas se enfeitam
Com cheirosos trevos,
São as raparigas…
Todos os meus enlevos.


___________________________________________
Jornal nº 213, de 28 de Agosto de 1910

Se eu quizesse amores
Tinha mais d´um moio,
Se tenho só um
E´trigo sem joio.


E não desejando
De ter mais nenhum,
E´trigo sem joio
Se tenho só um.


____________________________________________
Jornal nº 214, de 4 de Setembro de 1910

Se eu quizesse amores
Tinha mais d´um cento,
E´pão bolorento.


Até já com elle
Me não entretenho,
E´pão bolorento
Esse qu´inda tenho.


_____________________________________________
Jornal nº 215, de 11 de Setembro de 1910

Lindo amor eu tenho
Sezões a morrer,
Suppõe o valor
Que eu poderei ter.


Sem te vêr meu bem
Soffro tanta dôr,
Que eu poderei ter
Suppõe o valor.


______________________________________________
Jornal nº 216, de 18 de Setembro de 1910

O´juizo vario
Vareia, vareia.
Não posso ser firme
A quem me falseia.


Se amar quem é falso
E´um grande crime,
A quem me falseia
Não posso ser firme.



_________________________________________________
Jornal nº 217, de 25 de Setembro de 1910

O Anna, ó Anna,
Quem cahiu, cahiu,
Levanta-te ó Anna
Que ninguem te viu.


Pareces a ser
Muito leviana,
Que ninguem te viu
Levanta-te ó Anna.


______________________________________________
Jornal nº 218, de 2 de Outubro de 1910

E´um gosto ouvir
Nas manhãs d´Abril,
Chiar os carrinhos
De Banagazil (1)


Há quem se aborreça
D´ouvir p´los caminhos,
De Banagazil
Chiar os carrinhos.

1 - Grande herdade na margem sul, do alto Sado,
da qual teem fama os seus grandes palheiros e a chiada dos seus carros.


______________________________________________
Jornal nº 219, de 9 de Outubro de 1910

Já não há quem queira
Ganhar um vintem,
Ir à outra banda
Chamar o meu bem.


Esse que quer vae
E o que não quer manda,
Chamar o meu bem
Ir á outra banda.


____________________________________________
Jornal nº 220, de 16 de Outubro de 1910

Eu ouvi tocar
A campa no adro,
Abalei, fui vêr
Meu bem sepultado.


Com muito desgosto
E nenhum prazer,
Meu bem sepultado,
Abalei, fui vêr.



______________________________________________
Jornal nº 221, de 23 de Outubro de 1910

Se te dei palavra
Agora não quero,
Palavras não são
Correntes de ferro.


Se a palavra d´honra
Tem acceitação,
Correntes de ferro
Palavras não são.

0 comentários: